No Rio de Janeiro, onde vai passar um ano, disse à Agência Lusa, entre outras coisas, que acredita já existir um intenso diálogo cultural entre o Brasil e os países africanos de Língua (oficial) Portuguesa. Apesar disso, admite não ser um diálogo tão equilibrado:
“O Brasil é um país exportador de cultura. Nos anos 70 houve uma grande influência da literatura brasileira na que estava a ser feita, sobretudo, em Angola e Moçambique. O inverso é mais difícil, ainda não há uma dimensão cultural que justifique Angola influenciar o Brasil”.
Neste sentido, destacou a importância da atividade docente nesse intercâmbio:
“É preciso não esquecer o trabalho de professores de literatura africana desde meados dos anos 90, muito antes da movimentação política, já havia um espaço de abertura e que agora está a ser de facto reconhecido“, uma atitude política que, para ele, é o “culminar de um grande acumular de esforços de entidades e instituições“.
Interessante notar que, mesmo que os periódicos portugueses utilizem o termo lusofonia, Ondjaki não o utiliza. Quem assistiu à palestra que ele proferiu aqui em Florianópolis em 2006 (se não me falha a memória), pode ouvi-lo dizer que não o agrada o termo.
De modo semelhante, a pesquisadora de literaturas africanas Carmen Lúcia Tindó, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também questiona o uso de tal vocábulo, alegando que cada país tem uma cultura própria da língua portuguesa.
“Em relação à África não há apenas uma lusofonia. A língua portuguesa é um dos idiomas, mas há também as línguas africanas”, disse ela à Agência Lusa.
Particularmente, respeito a opinião de ambos e a vejo perfeitamente justificável. No entanto, prefiro pensar que há algo nisso tudo como “procurar chifre em cabeça de cavalo”. O termo lusofonia deveria sevir única e exclusivamente para referenciar um conjunto de países onde se fala Português. Até aí, tudo certo, não há nada de aterrador nem de culturalmente cerceador nesse termo. O problema consiste no fato de que, sobretudo por conta de pensadores, jornalistas e estadistas portugueses ainda órfãos do antigo Império, a lusofonia parece ainda querer abarcar uma noção de cultura transcontinental, e aí sim, ambos, Ondjaki e Carmen Tindó, estão acertadíssimos em seus raciocínios.
Leia o texto completo sobre o trabalho da profª Carmen aqui, e o do Ondjaki aqui.