Mia Couto – Venenos de Deus, Remédios do Diabo

“No fundo, o português não era uma pessoa. Ele era uma raça que caminhava, solitária, nos atalhos de uma vila africana”.

(p. 116).

A pandemia do coronavírus, infelizmente, alcançou praticamente todos os cantos do mundo. Junto a isso, um amplo conjunto de imagens, memórias e ficções cotidianas foram tomando forma, sobretudo no que diz respeito a um dos aspectos mais importantes da vida, a saúde, e seu oposto, a doença.

Venenos de Deus, Remédios do Diabo (2008) não é necessariamente um romance sobre esses binários, mas certamente se delineia a partir deles. A epidemia que assola Vila Cacimba, além de uma hecatombe biológica de parca inscrição fora daquele microuniverso social, apresenta um heterogêneo conjunto de saberes acerca da saúde, do padecimento, dos venenos e dos remédios que, num contexto pós-colonial como o de Moçambique, estão sempre marcados pelo choque entre sistemas de pensamento conflitantes.

Ao desembarcar de Lisboa em sua missão de curar a vila de uma epidemia, o doutor Sidónio Rosa veio também em busca da cura para o amor que sente por Deolinda, por quem se apaixonara quando se conheceram na capital portuguesa. Vila Cacimba, no entanto, demonstra ser um universo menos inteligível para ele do que seu próprio coração.

“Sidónio Rosa apenas conhece um caminho no labirinto de atalhos da Vila Cacimba: a ruela que liga a pensão ao posto de saúde e à casa dos Sozinhos. E é esta mesma rua de areia que ele, neste momento, percorre como se fosse um campo minado. Salta à vista: é um europeu nas profundezas de África. O passo é calculado, quase em bicos dos pés, o olhar cauteloso garimpeirando o chão. Ele não confia, a sua sombra não é comandada por ele”.

(p. 75).

Fica aí a nossa primeira sugestão de leitura para estes tempos pandêmicos em que nos estamos metendo. Que a literatura nos cure daquilo que puder.

Redatores aliviados :-)

Com muita satisfação comunicamos que eu e a Jane, redatores deste blog, defendemos nossas dissertações de mestrado no início do mês passado, conforme informações abaixo. Assim, creio que teremos a partir de agora um pouco mais de tempo para atualizar com frequência o Africopoética, que andava meio às traças. Pelo menos até o doutorado…

Mestrando: Sandro H. Brincher
Título da dissertação: “Pura mistura: alteridentidades calibanescas em O Outro Pé da Sereia, de Mia Couto
Orientadora: Profª. Drª. Simone Pereira Schmidt
Data: 10/05/2013

Mestranda: Jane Vieira da Rocha
Título da dissertação: “As margens da experiência: os miúdos e os mais-velhos na narrativa de Ondjaki
Orientadora: Profª. Drª. Simone Pereira Schmidt
Data: 17/05/2013

comemorando!

Agualusa e Mia Couto na Bienal do livro de São Paulo

O Salão de Ideias é um dos destaques da programação cultural da tradicional Bienal do Livro de São Paulo. O Salão é um espaço de discussão de temas diversos, geralmente em formato de mesas-redondas.

No dia 21/08/2010 (sábado), às 19:00, o angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto estarão numa mesa-redonda intitulada Lusotropicalismo, cujo foco é “mergulhar no mar de histórias da língua que une África, Brasil e Portugal”.

Acesse a programação da Bienal e prestigie o Salão de Ideias.

Jesusalém, de Mia Couto

Lisboa e Maputo recebem, no mesmo dia, o lançamento de Jesusalém, mais novo romance do moçambicano Mia Couto.
“Jesusalém” conta a história de Silvestre Vitalício, um homem que, abalado pela morte da mulher, Dordalma, se afasta do mundo, com os dois filhos, Mwanito e Ntunzi, e um velho criado ex-militar, refugiando-se num lugar remoto, ao qual dá o nome de Jesusalém e onde aguarda a chegada de Deus para pedir desculpa aos homens.

Sem esquecer de mencionar, mais uma vez, que aqui no Brasil teremos ainda este mês o lançamento de Antes de nascer o mundo. Haja literatura, porque leitores ele certamente já tem.

Editorial Caminho publica novo livro de Mia Couto

Fonte: Diário Digital (Portugal)

«e se Obama fosse africano? E outras interinvenções» é o novo livro de Mia Couto, que regressa com um conjunto de textos de intervenção proferidos em encontros públicos nos últimos anos.
Depois de «Pensatempos», Mia Couto regressa com mais um livro onde os leitores podem estar mais próximos das ideias do escritor moçambicano.
Em «e se Obama fosse africano? E outras interinvenções» podemos encontrar uma série de textos de reflexão sobre vários temas, que vão da política à literatura, da cultura à antropologia.
O livro estará disponível nas livrarias portuguesas no próximo dia 24 de Março. Aqui no Brasil, ao que parece, ainda nem sinal desse lançamento.

– Pareceu-me extremamente corajoso usar como título do livro o mesmo artigo que já foi objeto de uma consistente contra-argumentação há poucos meses. Valoremos a coragem, então.